quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O ensinamento do arcano V - O Papa

Arcano V
O Papa (Marselha) / O Hierofante (Rider-Waite) / O Alto Sacerdote (Witches Tarot)

O aprendizado de um oráculo para alguns funciona feito simbiose: entra pelos poros o entendimento de determinado símbolo e seu arquétipo, e assim aprende de maneira tranquila. Para outros, somente com muito estudo ou muita prática é que consegue assimilar – pelo menos em parte – as camadas daquele ícone. Eu não sou autodidata, porém aprendo muito rápido quando eu ouço alguém explicar, quando participo de debates, de conversas, somando ao estudo e à prática.

E como eu estou na energia da última postagem, a qual falava sobre o que seria uma pessoa inteligente, intelectual, filósofo, sábio e erudito, bateu aquela vontade de ter que falar sobre este arcano do tarô, o arcano V – O Papa ou Hierofante. E logo veio à mente em ter que comparar três imagens deste mesmo arcano, para poder chegar onde preciso falar sobre.

Sabemos que o tarô foi criado utilizando símbolos e figuras muito presentes na época. A Igreja Católica participava da vida das pessoas não só religiosamente, mas também na criação das leis. Ter a figura representativa do sumo pontífice dessa instituição no tarô destaca que muitas das regras da sociedade eram ditadas e/ou promulgadas pelo Papa. Antes se considerava o Papa como “Santo Padre”, o tempo passou e hoje na figura do Papa Francisco, essa imagem de superioridade do alto sacerdote da Igreja Católica foi deixada de lado. Lembro-me que em minha catequese, foi ensinado que o Papa era o representante de Jesus Cristo e lembro muito bem do discurso do Papa Francisco ao se declarar como “representante do Apóstolo Pedro”.

Ter um Papa disposto a ficar mais acessível à população é um caminho inovador dentro do tradicionalismo deste cargo, o qual ainda se soma ao dever de Chefe de Estado. Seria importante que neste arcano do tarô seja modificada a forma de apresentar este símbolo para se adaptar a essa nova concepção?

O arcano do Papa indica um professor, um mestre, aquele que ensina os outros, orientando e unindo pessoas, se tornando o elo entre aquele que o procura e a instituição. Este arcano também é visto como um representante da espiritualidade, na figura de um orientador espiritual de qualquer credo. Ensina regras, leis, explica com fundamentações sobre o que possui conhecimento.

Vocês agora devem estar pensando em todos aqueles professores, mestres e orientadores que se apresentam sentados em um trono mais alto, se colocando acima e superiores aos demais, ou sentados em um simples banquinho, podendo até sentar ao lado dele para ouvir os ensinamentos. E eu já vi e ainda vejo muito isso: pessoas que se colocam como verdadeiros Papas sobre certos assuntos, impondo o seu trono e seu cetro e que os demais devem se curvar às regras proferidas. Também já vi e ainda vejo Papas tão simples, que não precisam sentar em um banco mais alto para chamar a atenção, um simples gesto com as mãos e suas palavras fazem com quem todos ao redor fiquem atentos ao que tem a ensinar.

E esses Papas dos tronos ainda se somam, formando uma verdadeira casta hindu, onde determinam por espontânea vontade quem não é reconhecido por eles (ou não os bajula), não poderá participar das mesmas coisas. Fecham-se em grupos, panelas, ditam regras que os outros meros plebeus nada espiritualizados não pertencentes ao clero determinado por eles, teriam que aceitar e seguir. Se colocam como “os superiores escolhidos pelo dom do conhecimento e do estudo”, ou, simplesmente, bajulações e mais bajulações.

E os Papas dos banquinhos? Esses têm sorrisos verdadeiros, conversam por horas com você sobre qualquer coisa – com qualquer plebeu. E quando é necessário falar sério, conseguem captar a atenção dos demais sem precisar impor a condição de mestre – aluno. Os alunos admiram o seu mestre, é a chamada liderança por carisma. E, por seu próprio instinto, consegue se fazer entender sobre qualquer coisa que ensine. As regras não são impostas, elas são compreendidas. Os ensinamentos dados são absorvidos pela plateia, com olhos ávidos e apaixonados pelo conhecimento. Estes não precisam ser bajulados e muito menos bajulam outros, eles conseguem incentivar aquilo que há de melhor em cada um, independente se você tem vocação para ser um pescador, um bancário, um executivo ou cartomante.


Por mais tradicional que seja o Papa do Marselha, por mais que seja seguido o Papa do Rider-Waite, o mestre que conquista a minha admiração é o Papa do Witches Tarot, de Ellen Dugan. Podem associar ao que quiserem essas considerações, pois existem os mestres tradicionais, os mestres seguidos por serem muito conhecidos, e há aqueles mestres que conquistam a admiração por serem acessíveis e compartilhar conhecimento.

Reconheço muitas pessoas nesses arquétipos, principalmente aquelas em que eu evito estreitar algum laço por não me interessar. Há pessoas que conheço (e que gosto) e, infelizmente, as vejo se colocarem no “Alto Clero”. Mas... ser um Papa é uma missão e não deve ser utilizada como ícone para adquirir a fama e reconhecimento, por pura vaidade.

Ser Papa não é ser o Deus. E nem a Deusa.



Carolina d'Oguian

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